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O professor Ramon Ramos é graduado em Letras pela
UFRJ. Autor dos livros Tinta (2012) e Caroço (2013), ele é também o organizador da antologia Mestiço (2013), todos publicados pela editora Patuá de São Paulo.
Na entrevista a seguir, o autor apresenta Caroço, comenta a sua escrita e elege os seus “clássicos”. Nessa eleição, ele sugere, assim como na resposta que envolve o processo de criação, como a estetização da memória perceptiva ajuda na construção de textos poéticos e narrativas.
Na entrevista a seguir, o autor apresenta Caroço, comenta a sua escrita e elege os seus “clássicos”. Nessa eleição, ele sugere, assim como na resposta que envolve o processo de criação, como a estetização da memória perceptiva ajuda na construção de textos poéticos e narrativas.
Caroço é um livro repleto de vozes que rememoram, e de narradores
urbanos que se movem por cenários ruídos com narinas acesas. Vozes munidas pelo olor
e o corte. Narradores que preparam o nariz “para o cheiro”, ou seres que
reclamam de não serem entendidos “pelos cheiros”. Narradores de “brechas abertas" aos olores cotidianos, universais, com “a vontade de degustar o melhor dos outros”.
Esta sintonia com o outro, remete à poética da
leitura, em Borges, um dos clássicos mencionados, pelo autor, na entrevista a
seguir. Ele sabe que, para ficar, a frase depende de sua excelência, o outro –
o leitor. Nos links a seguir, encontram-se os livros do autor.
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“alegria de uva sem caroço” e “sua fruta só lhe dá
caroço”
NG: Ramon, como você apresenta Caroço (2013) para o
leitor?
RR: Caroço é um livro duro. Espero que belo também. É
dividido nas partes “Homem da pipoca”, “De preto e gorda” e “Com jazz e
terapia”. Na primeira, protagonistas masculinos. Na segunda, femininos. A
terceira é um outro troço. 5 contos em cada parte, acho que a simetria deixa o
livro mais redondo.
NG: Qual é o seu “cânone” literário?
RR: Cânone é um troço complicado, né? Acho que Borges,
Machado, Clarice e Guimarães – em prosa – sejam meus clássicos. Graciliano me
influencia mais do que eu costumo admitir. O problema de pensar nos meus
eleitos no contemporâneo (digamos assim) vem disso: a gente coloca no cânone e
logo depois se decepciona de alguma maneira, e isso é chato. Para não me
alongar, cito alguns atuais que invejo (julgo a inveja um bom parâmetro de
admiração literária): Carrascoza, Marçal Aquino, Hatoum, Noll, Vila-Matas, Lobo
Antunes, Zambra. O Zé Luiz Passos, que ganhou o Telecom agora, também. Na
poesia tem a Ana Martins Marques, o Eucanaã, o Duda Machado, A Szymborska...
NG: Quando leio os cheiros que perpassam Um peixe para
Alda, Petisco, Na cabeceira de Hemingway, Dedicada, Meu exu não dança jazz e
Estética de um abandono, lembro do Jung. Segundo ele, o cheiro é o sentido que
mais remete à memória. Até que ponto a memória tem a ver com a sua narrativa?
RR: Cheiro é vital na minha literatura. Tem que ter
cheiro, gosto, textura, como num filme de Lars von Trier. Talvez a memória, segundo
você e Jung, tenha a ver com tudo isso. Acho que a memória da gente é mais no
corpo, daquilo que o corpo lembra. Então, na hora da escrita, lembro (ou forjo)
como foi sentir algo e uso essa sensação numa cena, num verso, numa descrição.
Ou numa simples escolha de verbo ou substantivo. Memória para mim é muito mais
nas sensações da coisa do que na coisa em si.
NG: “Com jazz e terapia” parece ser a parte punk do Caroço.
Tem osso, exu, insetos e até velhas sem sintaxe. Tudo junto. Começa com um eu poético
que faz “da volta sua afirmação” e um narrador que afirma: “a inocência faz
parte do caroço.” Faz?
RR: Faz. Acho que deve ser difícil para um caroço
quando ele ainda crê na possibilidade de germinação. Não vai germinar. Vai
ficar um troço duro e só com tempo ele aceitará essa sua condição. Por isso,
jogar com essa inocência, essa esperança, esse “achar que vai”, é minha veia
hardcore.
NG: O que deseja um narrador que diz “Liguei os anjos
na tomada”?
RR: Um narrador deve desejar uma luz de tamanha
claridade que não existe. Um autor só deseja que a frase fique. E eu, que seja
li(n)da.
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