e todo caminho deu no mar

"lâmpada para os meus pés é a tua palavra"
sábado, 22 de dezembro de 2012
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
Verdadeiro com a época e suas palavras
Uma versão desta minha resenha foi publicada na Revista Via Atlântica n 21 do Programa de Pós-Graduação em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa - FFLCH / USP - São Paulo, 2012
Literatura e Afrodescendência no Brasil
I
Um marco nos estudos da Literatura Negra produzida no Brasil. Este é o
tom da recepção crítica que vem tendo a antologia “Literatura e Afrodescendência
no Brasil” (UFMG, 2011), organizada em 4 volumes pelo professor Eduardo de
Assis Duarte. Objetivando o “resgate e a revisão historiográfica e crítica”, a obra
compila a produção de 65 pesquisadores de universidades brasileiras e estrangeiras,
envolvendo obras de 100 escritores afrodescendentes que datam do século XVIII
até o século XXI.
Os sumários dos livros, suas apresentações, os depoimentos e demais
roteiros biobibliográficos sugerem ao leitor um trânsito prazeroso pelos
estudos acerca da produção literária de autoria negra no Brasil, e por gêneros
como a narrativa, o ensaio, a biografia e a poesia, dentre outros. Essa
multiplicidade de formas, assim como a releitura do acervo histórico-estético
da tradição negra, engendra um debate acadêmico no qual ecoam as vozes da
Literatura Afro-Brasileira e seus conceitos em construção. Representativas das
diferentes identidades culturais, essas vozes produzem um profícuo intertexto –
histórico, crítico, ficcional – entre os autores negros de diferentes contextos
históricos e estéticos.
A produção dessa intertextualidade negra auxilia na inscrição de uma
tradição que começa a consolidar-se no Brasil a partir dos anos de 1930. “Nesse
momento, o que era esparso assumiu uma identidade”, diz o escritor Abdias
Nascimento – “o mais importante nome da cultura negra no Brasil”, segundo Maria
Nazareth Soares Fonseca. Ela é co-organizadora do volume 4 da Antologia, e
autora dos textos de apresentação dos poetas contemporâneos Cuti e Éle Semog. Em
seu ensaio “Literatura Negra”, a professora contrapõe a questão do ritmo na
cultura africana à questão das vozes, e condensa um roteiro histórico e
cultural da Literatura Negra produzida nos Estados Unidos, na Europa e no
Brasil. Acionar o diálogo entre esta tradição negra, os autores modernos e a
produção da contemporaneidade parece ser a base do roteiro construído por Assis
Duarte, como sugerem as apresentações e bibliografias atualizadas nos quatro
livros assim intitulados: 1 – Precursores; 2 – Consolidação; 3 –
Contemporaneidade; 4- História, teoria, polêmica.
II
Fruto de uma década de pesquisas, a obra se inscreve num contexto marcado
pelo resgate de anos de luta política e embates culturais em torno da
identidade do negro e sua produção estética e intelectual. Além disso, a
referida coleção questiona posturas conservadoras e/ou diletantes que dialogam
com a literatura como se ela fosse “um privilégio das elites” (Márcio Barbosa),
e tivesse a sua fundamentação apenas naquele objeto artístico de filiação
essencialmente verbal, cujo apogeu se deu no século XIX, ratificando o discurso
de uma tradição cristã, branca, basicamente heterossexual e de vinculação
eurocêntrica.
Os tempos são outros. De acordo com Abdias do Nascimento, em um dos
momentos mais lúcidos do seu depoimento, “a gente tem que ser verdadeiro com a
época em que estamos vivendo.” Em sintonia com o criador do Teatro Experimental
do Negro, sabemos que a maioria dos leitores, escritores e pesquisadores contemporâneos,
todos nós convivemos com a Literatura de forma problematizada. Nenhuma aura, nenhum
diletantismo nos resta. As linguagens e os demais produtos da cultura
construídos neste início de milênio são carregados da história, do gênero e da
cor de quem cria. Se, como argumentam alguns, embaixo de toda pele corre o sangue
da mesma cor, por cima da nossa tez a história transcorre de forma diferente, e
começa a ganhar outras versões.
Como atestam as versões da margem aqui copiladas, nossa história é
violenta. Contrapondo-se ao histórico repressivo e ao “passo retardado da
comunidade afro-brasileira” (Abdias Nascimento), a Antologia critica “o
discurso da brasilidade mestiça e tolerante” (Assis Duarte), e sugere a urgência
de narrar travessias e deslocamentos das “culturas africanas transplantadas ao
Brasil pelos navios negreiros” (Silviano Santiago). A dívida da nossa sociedade
com os autores “marcados pela cor da pele” é antiga; o que, de certa forma,
pode ser mensurado na radicalidade de posturas ideológicas e propostas
estéticas de autores como o poeta Cuti, que, consciente de que já não basta
reproduzir os estereótipos da esquerda e os discursos ideológicos, afirma que o
“viés estritamente sociológico” prejudica a Literatura Negra.
Crítico do cânone literário brasileiro, Cuti questiona alguns autores
imortais e midiáticos e, atento às relações entre ética e discurso, vê a
Literatura como jogo e forma de transgressão, através da qual é possível erigir
o “universo subjetivo negro”. Sua leitura estética vai além da elaboração
intelectual e sugere, através da bela metáfora de uma mãe negra que ama os seus
filhos, a forma de pensar o futuro desses filhos resgatando elementos para além
de suas consciências.
O autor de Contos crespos é
representativo de uma geração de poetas para a qual é importante assumir a
identidade negra, é imprescindível escrever os textos e publicar os livros; mas
isso não basta. Eles sabem que, independente da cor de quem escreve, o autor
precisa ter consciência da historicidade e da materialidade cultural da
linguagem e das formas com as quais trabalha. Sabem ser salutar conhecer o
arquivo de formas da tradição. Cuti dialoga com esta tradição afrodescendente
de forma crítica, assim como o poeta e antropólogo Edmilson de Almeida Pereira
que, ao combinar “lucidez e ludismo” em sua poética, usa a palavra “no sentido
lúdico de recriação e ampliação da realidade.”
III
Como Cuti e Márcio Barbosa, o professor Edmilson de Almeida (uma das
bibliografias mais alentadas das poéticas contemporâneas) “circula” pela
Antologia em mais de um volume. Quando lido pelas lentes certeiras da ensaísta
Maria José Somerlate, Edmilson surge como autor de poemas que provocam e
“costumam desarmar os leitores mais incautos”. Autor dos perfis literários de
Estevão Maya-Maya e Salgado Maranhão, o ensaísta Edmilson de Almeida destaca-se
também entre os autores de depoimentos no volume 4. Além do seu discurso
elucidativo, ressalto, no referido volume, as falas de Abdias Nascimento, Cuti
e Zilá Bernd; principalmente pela forma como eles inscrevem seus roteiros
existenciais e constroem os seus textos, entre a lucidez afirmativa da experiência
social e a construção de uma “estética negra”, cuja história é assinada muitas
vezes com sangue. Para Cuti, a construção dessa estética “é uma questão de
sobrevivência.”
O discurso de cunho ético-estético-ideológico elaborado por Cuti – e
ratificado por Edmilson de Almeida e outros contemporâneos – filia-se ao
discurso da consciência negra oriundo da tradição. Como exemplos dessa filiação
histórica destacam-se, dentre outros, os escritores “consolidados” Domício
Proença Filho, Joel Rufino dos Santos e Oswaldo de Camargo, para quem a
“conquista estética também é luta”. Em seu depoimento, o autor ratifica as
idéias apresentadas por Regina Dalcastagné, cujo texto problematiza, por meios
gráficos e estatísticos, as dificuldades do autor negro frente à falta de
modelos na tradição literária.
Há no nome dessa tradição, querelas infindas: Literatura Negra ou
Literatura Afrodescendente? A radicalidade de algumas leituras pode ser aferida
já na seleção dos vocábulos com os quais os estudiosos buscam cognominar esta
Literatura. A pesquisadora Zilá Bernd lembra que alguns autores continuam
acreditando numa “singularidade” e numa “essência única”. Para esses autores, “negra” é a palavra que
melhor adjetiva esta literatura, principalmente por carregar em seu significado
a inscrição das inúmeras lutas sociais empreendidas pelos negros. A autora de Introdução à literatura negra critica
este olhar “defasado” e, em sintonia com um referencial teórico do seu tempo,
apresenta uma postura reflexiva que difere da maioria ao lembrar que separar
autores pela cor é racismo.
IV
Corpus de ponta e crendo que “a concepção
de arte é mutável”, Assis Duarte elege o vocábulo afrodescendente como palavra
que revitaliza a cultura produzida pelos negros no atual contexto. Tal revitalização
atualiza uma produção que começa a se inscrever na “Linguagem dos olhos”
românticos do poeta letrado Domingos Caldas Barbosa, e chega aos contemporâneos
sem nenhuma crença em aura ou essência, assim: “em cruz fico muito à vontade/
para reunir setas de revolta” (Cuti). Na
leitura em torno desta tradição e dos diálogos estabelecidos entre ela e os
autores modernos e contemporâneos, o organizador demonstra a contemporaneidade e
a contribuição valiosa da sua empresa.
Atentando para o lugar de onde as coisas são vistas e/ou ditas, esse olhar
contemporâneo é acionado principalmente em “Entre Orfeu e Exu, a
afrodescendência toma a palavra”, onde Assis Duarte traça uma linha dialógica da tradição
negra, e em “Por um conceito de Literatura Afro-Brasileira”, texto que aciona
várias vozes em torno da questão do conceito de Literatura escrita pelos
negros. Para a apresentação deste conceito
em construção, o ensaísta e pesquisador desconstrói signos culturais e estéticos. Nessa
desconstrução, ele dimensiona a saturação histórica de palavras como “negro”,
cujo significante atravessa, desde a Bíblia, contextos históricos datados,
carregados de muitos preconceitos sociais. Esse olhar contemporâneo que desconstrói e sugere outros ângulos de leitura faz desta uma antologia imprescindível para quem lê, estuda ou deseja conhecer a Literatura Negra produzida no Brasil.
quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
2 poetas concretos
a vida é curva
Oscar Niemryer
arquiteto carioca e senhor das curvas, dizia ser a vida mais importante que a arquitetura
1907 - 2012
não finge o pasmo, não inventa que é chapado:
quem pira além da piração não é pirado.
Décio Pignatari
escritor paulista e senhor "cloaca", para quem a literatura parecia ser mais importante que a vida
1927 - 2012
segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
Bruta aventura em versos
Exibição e debate do filme sobre Ana Cristina Cesar
UFRJ 05/12/12 - 13 h
Mesa de debates
Letícia Simões, cineasta
Nonato Gurgel, Prof. de Teoria Literária da UFRRJ
Heleine Fernandes, Pesquisadora do Mestrado em Ciência da Literatura da UFRJ
Mesa de debates
Letícia Simões, cineasta
Nonato Gurgel, Prof. de Teoria Literária da UFRRJ
Heleine Fernandes, Pesquisadora do Mestrado em Ciência da Literatura da UFRJ
Mediadora: Anélia Pietrani, Profa. de Literatura Brasileira da UFRJ
Integração dos Núcleos Interdisciplinares de Literatura e Cinema(NILC)
e de Estudos Literários da Mulher (NIELM).
II MOSTRA CULTURAL DA FAC. DE LETRAS DA UFRJ
Validade de 03 horas para certificado de AACC
Integração dos Núcleos Interdisciplinares de Literatura e Cinema(NILC)
e de Estudos Literários da Mulher (NIELM).
II MOSTRA CULTURAL DA FAC. DE LETRAS DA UFRJ
Validade de 03 horas para certificado de AACC
quinta-feira, 22 de novembro de 2012
no ritmo da letra e da memória
A escritora, tradutora
e psicanalista carioca Solange Rebuzzi ostenta uma bibliografia cuja dezena de
títulos contempla diferentes gêneros como a poesia, o ensaio e o romance.
Formada em Psicologia, doutora em Literatura, pesquisadora da obra de Fancis Ponge, ela coordenou o Seminário de Literatura e Psicanálise, na Escola Letra Freudiana do Rio de Janeiro.
Autora de textos ensaísticos sobre alguns escritores seminais da nossa literatura, como João Cabral e Paulo Leminski, ela lança no próximo dia 28 o Livro das Areia. Sobre esta narrativa de 2012, outros livros e temas do seu inverso profissional, ela fala a seguir.
Formada em Psicologia, doutora em Literatura, pesquisadora da obra de Fancis Ponge, ela coordenou o Seminário de Literatura e Psicanálise, na Escola Letra Freudiana do Rio de Janeiro.
Autora de textos ensaísticos sobre alguns escritores seminais da nossa literatura, como João Cabral e Paulo Leminski, ela lança no próximo dia 28 o Livro das Areia. Sobre esta narrativa de 2012, outros livros e temas do seu inverso profissional, ela fala a seguir.
clique para ampliar
1
- Solange, como classifica o seu novo livro de ficção, cuja “língua que não é
só a de um romance”?
O Livro das areias é uma narrativa. Está
fora das classificações mais usuais. Nasceu assim. A escrita deu a direção à
minha fala, fora da linguagem mais linear. Quando afirmo, no início do livro,
que a língua não é só a de um romance quero marcar essa diferença, enquanto possibilidade.
Ele está escrito em versos livres, mas é uma narrativa de tempos vívidos em
diálogo com a escrita.
2
- A sua inscrição profissional abrange diversas áreas do saber e da cultura
como a psicanálise, a literatura e a tradução. Até que ponto a psicanalista, a
escritora e a tradutora dialogam? Ou estas atividades profissionais são
exercidas de formas isoladas?
Nonato, meu caro, são
as diferentes áreas de “um saber não sabido” que se mostram como eu gosto de
dizer. A psicanalista, a escritora e a tradutora conversam... O meu interesse
está assinalado no estilo que as
narrativas, as distintas narrativas, saboreiam. O escrever se impõe a partir da
leitura com o ritmo da letra. Os gêneros importam menos.
No
consultório, são os analisantes quem fazem e refazem sua própria escrita-vida
diante de uma escuta analítica que lhes dá novas possibilidades.
Na
tradução o trabalho celebra a língua estrangeira, que nos alcança enquanto
tradutores-escritores-poetas e a experiência se coloca diante da falta, pois não
se traduz nunca com a completude e a perfeição. Traduzimos com o desejo e a
capacidade de inventar, subtrair e/ou somar.
3
- Quais são as diferenças entre este Livro
das Areias (2012) e as narrativas de Estrangeira (2010) e Quase
sem palavras (2011)?
Estrangeira nasceu depois de um tempo de estudos na França, durante um
doutorado-sanduíche em 2005. É também uma declaração de amor à Paris, mas não
só. Talvez, por isso ele tenha sido publicado primeiro. E o Livro das areias cresceu aos poucos,
obedecendo ao ritmo da memória, pois é bastante autobiográfico (dentro da
lógica que reconhece que o escrito carrega o bio
da grafia ficcional sempre, conforme nos ensina Roger Laporte).
sábado, 17 de novembro de 2012
Cordel não é folclore
Como diz na entrevista a seguir, o professor e poeta Aderaldo Luciano, autor de O auto de Zé Limeira (2008), vem pesquisando o cordel há 20 anos. Em 2007, ele defendeu na UFRJ a tese de doutorado “Literatura de Cordel: visão e revisão”, orientada pela professora e escritora Helena Parente Cunha.
Desde então, o autor vem ministrando aulas e apresentações públicas onde apresenta uma “narrativa” entremeada de figurações da cultura sertaneja e cenas urbanas, com uma metodologia repleta de informação e humor, na tradição da aula-espetáculo de Ariano Suassuna.
Esta crítica tem como base os aspectos folclóricos e culturais dos antigos estudos e pesquisas, em detrimento dos elementos literários que esta pesquisa busca priorizar. A seguir, a fala deste leitor de Câmara Cascudo e Augusto dos Anjos, que traz para o campo da linguagem a especificidade do cordel, e acredita no seu “caráter literário”.
1 - Aderaldo, por que o cordel em
pleno século XXI?
O cordel é a única forma poética genuinamente brasileira. Todas as
escolas literárias passaram e o cordel continua. É como o soneto: não tem idade
e é sempre vanguarda. Infelizmente nunca recebeu o tratamento merecido. Com os
deslocamentos do eixo cultural e as mudanças sociais vigentes neste século, o
olhar sobre o cordel também migrará. Há 20 anos venho me preparando para isso.
Agora é hora.
2 - Quais são os autores mais
representativos do cordel no Brasil?
Da Geração Princesa, a pioneira, temos Leandro Gomes de Barros,
Silvino Pirauá de Lima, João Martins de Athayde e Francisco das Chagas Batista.
Da Geração Prometida, a intermediária, que ofereceu permanência ao
cordel: José Camelo de Melo Resende, Delarme Monteiro, José Pacheco, Antonio
Teodoro dos Santos e Manoel D'Almeida Filho. Da Geração Coroada: João
Firmino Cabral, Bule-Bule, Manoel Monteiro, Antonio Américo de Medeiros e
Azulão. A Geração Celebrante, esta que aí está segurando o bastão e
fazendo fé na coroa, aprendeu com os mestres e está trilhando o bom caminho,
mas ainda está sob observação.
quarta-feira, 14 de novembro de 2012
FLIPIPA 2012
No link abaixo,
encontra-se a programação do quarto Festival Literário da Pipa que acontecerá este ano de 22 a 24 de
Novembro no RN. Evento literário que se identifica com o discurso multicultural contemporâneo, o FLIPIPA celebra a literatura e a leitura, e conta com a participação de escritores, poetas, professores, jornalistas, pesquisadores acadêmicos e críticos literários, objetivando, segundo o site do evento, "unir as duas pontas da prática literária: o pensamento crítico/acadêmico e a formação através de uma programação educativa".
http://www.flipipa.org/
Postado por
Nonato Gurgel às
18:45
quarta-feira, 7 de novembro de 2012
Obama bis
o discurso multicultural do presidente negro
reeleito com cabelos brancos
pelas minorias ora maioria
na sintonia virtual a semelhança dança
o riso solidário via twitter:
negros mulheres gays
pobres e jovens
alunos de Harvard
71 % dos latinos apostaram na sensibilidade social dos democratas americanos
isso faz o mundo respirar um pouquinho
melhor, mais lépido
menos bélico
reeleito com cabelos brancos
pelas minorias ora maioria
na sintonia virtual a semelhança dança
o riso solidário via twitter:
negros mulheres gays
pobres e jovens
alunos de Harvard
71 % dos latinos apostaram na sensibilidade social dos democratas americanos
isso faz o mundo respirar um pouquinho
melhor, mais lépido
menos bélico
terça-feira, 6 de novembro de 2012
Obama
Filho de um economista com uma antropóloga, ele
foi criado entre livros, filmes e peças de teatro. Como sua mãe, ele é fã do "Orféu Negro" - um filme
dirigido pelo francês Marcel Camus, baseado na peça "Orféu da Conceição", de Vinícius de Moraes.
Obama foi professor. Estudou Direito e Ciências Sociais em Harvard e Columbia. Deseja menos dores, menos narrativas bélicas na internet e nas bibliotecas da América. Tem sorriso firme e humor suficiente para comparar-se ao vira latas que procurava para a filha em 2008, quando assumiu o cargo como primeiro presidente negro dos Estados Unidos.
Aos 52 anos, a biografia deste Nobel da Paz ostenta uma vida em trânsito. Viveu na Indonésia e no Havaí. Viu, pegou e tirou ondas. Muitas ondas. Ouvido treinado por Males Davis, Bruce Springsteen e U2, o presidente assume que tragou. Negro lépido e afirmativo, sua imagem aciona o exercício da diferença e aponta para um roteiro histórico e cultural bem mais solidário. Isso pode aferido em assertivas tipo "Eu adoro esse cara", referindo-se ao ex-presidente Lula em 2009.
Ao contrário de republicanos como Bush e Romney, o democrata autor de "A origem dos meus sonhos" vê além das diferenças raciais na América em crise: "não há um EUA branco e outro negro, e sim os Estados Unidos da América". Por isso ele diz ser o presidente de todos os americanos. Em português, seu nome remete à conjugação do verbo amar no presente do indicativo e no imperativo: ama.
Obama foi professor. Estudou Direito e Ciências Sociais em Harvard e Columbia. Deseja menos dores, menos narrativas bélicas na internet e nas bibliotecas da América. Tem sorriso firme e humor suficiente para comparar-se ao vira latas que procurava para a filha em 2008, quando assumiu o cargo como primeiro presidente negro dos Estados Unidos.
Aos 52 anos, a biografia deste Nobel da Paz ostenta uma vida em trânsito. Viveu na Indonésia e no Havaí. Viu, pegou e tirou ondas. Muitas ondas. Ouvido treinado por Males Davis, Bruce Springsteen e U2, o presidente assume que tragou. Negro lépido e afirmativo, sua imagem aciona o exercício da diferença e aponta para um roteiro histórico e cultural bem mais solidário. Isso pode aferido em assertivas tipo "Eu adoro esse cara", referindo-se ao ex-presidente Lula em 2009.
Ao contrário de republicanos como Bush e Romney, o democrata autor de "A origem dos meus sonhos" vê além das diferenças raciais na América em crise: "não há um EUA branco e outro negro, e sim os Estados Unidos da América". Por isso ele diz ser o presidente de todos os americanos. Em português, seu nome remete à conjugação do verbo amar no presente do indicativo e no imperativo: ama.
Como escreveu hoje Arnaldo Jabor nO Globo, "se o Mitt for eleito, voltará a grande máquina careta onde todos se encaixam como parafusos obedientes, uma máquina que paraliza o presente num passado eterno..."
Obama bis.
Obama bis.
sexta-feira, 2 de novembro de 2012
ajoelha
... a morte que
é nesta história o meu personagem predileto.
Clarice Lispector, A
Hora da Estrela, 1977
... com o rigor/que a morte pede
Armando Freitas Filho, Cabeça de Homem, 1991
...digam-lhe
a
verdade, que esta tão
dura
morte é ainda o
resto
da minha alegria
Walter Hugo Mãe, Poemas,
2005
Eu
estive com a morte de frente; vou ter medo de encarar o que?
Reinaldo Gianecchini em
“Marília Gabriela entrevista”, 2012
... quando não escrevo estou morta...
Clarice Lispector, entrevista para a TV Cultura, 1977
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
FLIPIPA
No link abaixo, a programação do Festival Literário da Pipa que acontecerá de 22 a 24 de Novembro no RN.
http://www.flipipa.org/
sábado, 6 de outubro de 2012
leitor dos manuais
Lembro da
casa de cores e cheiros fortes. Corpos quentes em quartos sombrios. Lá, dançava quem não lia os manuais da carne
e suas pequenas traições negociadas aos gritos ou na mudez mais sanguínea. Nunca
esqueci este cenário da família do filme “Os sete gatinhos”,
baseado na obra de Nelson Rodrigues.
Assim como a
poeta Diva Cunha, o teatrólogo é um autor ocupado “com as
coisas da carne”. Leitor da gramática da carne, o autor das Tragédias
Cariocas não subestimava a morte. Conheceu-a bem cedo quando viu seu irmão Roberto ser assassinado numa redação de jornal. Em entrevista para o escritor
Oto Lara Resende, Nelson diz que aos 40 anos sacou a idéia de finitude.
Peles e pelos. O universo
erótico e familiar recortado pelo autor, em 17 peças teatrais, ajuda a entender o cotidiano burguês que a modernidade urbana inventou no século XX. Ajuda e nos
situa a todos num mesmo e efêmero reino: o do corpo. É a carne e sua sinfonia que o autor
ouve e põe no palco.
sábado, 22 de setembro de 2012
Teoria e Crítica Literária
A
seleção dos dez autores finalistas do Prêmio Jabuti inclui o ensaísta Eduardo
de Assis Duarte, professor da UFMG, cuja antologia é uma referência nos estudos da
Literatura negra no Brasil.
A presença das
editoras de SP e MG parece sugerir, aos universos da crítica, da academia e da
mídia, alguma coisa em relação aos processos de leitura, pesquisa e publicação
em nosso país.
Jabuti 2012
1º - Da estepe
à caatinga: o romance russo no Brasil (1887-1936)
- Bruno
Barretto Gomide, EDUSP
2º - Critica
Textualis in Caelum Revocata? Uma Proposta de Edição e Estudo da Tradição
de Gregório de Matos e Guerra
-
Marcello Moreira, EDUSP
3º - A
Espanha de João Cabral e Murilo Mendes
- Ricardo Souza de Carvalho, Editora 34
4º - Cenas
de um modernismo de província
- Ivan Marques, Editora 34
5º - Literatura e Afrodescendência no Brasil: antologia crítica
- Eduardo de Assis Duarte e
Maria Nazareth Soares Fonseca, Editora UFMG
6º - Hermenêutica
e Crítica: o pensamento e a obra de Benedito Nunes
- Jucimara
Tarricone, EDUSP
7º - João
Antônio, leitor de Lima Barreto
- Clara Ávila Ornellas - EDUSP/FAPESP
8º - A
Construção da Identidade Nacional nas Crônicas da Revista do Brasil
- Maria Inês Batista Campos, Editora Olho D'Água
9º - Janelas
Indiscretas: Ensaios de crítica biográfica
- Eneida Maria de Souza, Editora UFMG
10º - Poemas e Pedras: a relação entre a
escultura e a poesia partindo de Rodin e Rilke
- Rita Rios, EDUSP
segunda-feira, 17 de setembro de 2012
Memórias eróticas de um país repressivo cheio de tesão
Nelson
Rodrigues é o autor brasileiro que mais vi do que li. Primeiro vi Nelson via Jabor:
“Herculano, aqui quem fala é uma morta” – nunca esqueci a voz de Darlene Glória
girando no gravador. Eram as primeiras cenas do filme “Toda nudez será castigada” e meu primeiro espanto no universo rodrigueano. Primeiros passos na educação
sensorial.
Dizendo-se
cristão, o autor de “Vestido de Noiva” (1943) rasurou as cartilhas religiosas e
estéticas do Brasil moderno. Questionou bulas ideológicas, da esquerda e da
direita, no contexto ditatorial dos anos 70 e 80. Afirmava ser Marx uma besta. Como
rezam as imagens dos mais de 20 filmes baseados em sua obra, o sexo atrapalha o
amor.
No universo
pujante e contraditório dos afetos e das paixões, o autor pernambucano que melhor
encenou o corpo e a alma da classe média suburbana era provocador: dizia que só
as mulheres normais gostam de apanhar; afirmava ser preciso paixão até para
chupar um picolé.
sábado, 15 de setembro de 2012
Atire a primeira pedra
Nelson
Rodrigues (1912 – 1980) criou peças teatrais e engendrou narrativas suburbanas
repletas de tragicidade e lirismo. Erotismo e violência são ingredientes
recorrentes nesta escrita que, a partir da década de 40, foca no imaginário
erótico da moderna classe média surgida no século XX.
Embora não
seja de sua autoria, a frase que intitula este post é uma homenagem ao autor que
melhor encenou o erotismo urbano nos trópicos, e que este ano completaria um
século de genialidade e contradição. Ele mesmo se definia como “reacionário”, “anjo
pornográfico” ou “flor de obsessão”, dentre outros epítetos.
O escritor é cria do jornalismo onde começou a trabalhar aos 12 anos. Foi
repórter policial. Anos depois, o jornalista Samuel Wainer sugeriu-lhe “Atire a
primeira pedra” como título para uma coluna; mas o autor de “A vida como ela é”
preferiu assim intitular sua coluna no jornal Última Hora na década de 50 no
Rio.
Em crônicas,
peças teatrais, aforismos e romances, Nelson "encenou" os gestos e afetos
suburbanos de um país repressivo cheio de tesão. Tinha, no buraco da fechadura, o melhor
ângulo de visão. Pelo buraco leu na carne a porção dionisíaca do seu povo. Numa
época na qual não era bacana gostar do Brasil, ele dizia que o brasileiro
possui luz própria. Apostava no porvir cultural dos trópicos.
sexta-feira, 7 de setembro de 2012
Brasil
Este país é um dos últimos que ainda veneram a poesia...
O Brasil só adentra o palco da literatura universal na segunda metade do século XIX com duas figuras realmente representáveis: Machado de Assis e Euclides da Cunha. Machado está para o Brasil como Dickens para Inglaterra...
O Brasil só adentra o palco da literatura universal na segunda metade do século XIX com duas figuras realmente representáveis: Machado de Assis e Euclides da Cunha. Machado está para o Brasil como Dickens para Inglaterra...
A Europa tem muitíssimo mais tradição e menos
futuro, e o Brasil, em contrapartida, menos passado e mais porvir.
Stefan Zweig, "Um olhar sobre a cultura brasileira" in Brasil, um país do futuro, 1941
Stefan Zweig, "Um olhar sobre a cultura brasileira" in Brasil, um país do futuro, 1941
sexta-feira, 24 de agosto de 2012
Antonio Cicero
Depois de Guardar (1996) e As
cidades e os livros (2002), o poeta, compositor e filósofo Antonio Cicero
publica, pela Record, o seu terceiro e aguardado livro de poesia: Porventura
(2012).
Capa com pintura de Luciano Figueiredo e orelhas
de Antonio Carlos Secchin, o novo livro é composto de 35 poemas que ratificam a
poética densa de versos claros que o autor vem construindo desde as primeiras
composições em parceria com sua irmã, a cantora Marina Lima.
Leitor de cidades pelas quais adora caminhar, Cicero diz não saber contar histórias. No entanto, os seus versos “líricos, eróticos, céticos” continuam atualizando o imaginário de quem lê, canta, pensa e escreve na contemporaneidade, como demonstram os 4 poemas de Porventura citados na entrevista a seguir e transcritos no terceiro post.
A seguir, a palavra do poeta que é autor de
títulos ensaísticos como O mundo desde o
fim (1995), Finalidades sem fim (2005) e Poesia e Filosofia (2012). Como Keats, ele também acha
que “o poeta não tem personalidade, pois é um camaleão. Pode-se dizer que,
enquanto poeta, ele não tem um ser particular”.
o poeta de "todas as cidades que existem"
Cicero, comecemos pelo título. Por que um advérbio?
AC: Por que não? “Guardar” é um verbo. Mas
quem melhor explica esse título é Antonio Carlos Secchin, na orelha do livro.
Ele diz: “O advérbio ‘porventura’, afirma-nos o Houaiss, é empregado
especialmente em perguntas delicadas. Já o sentido de ‘ventura’ oscila entre
‘felicidade’ e ‘risco’ – dois combustíveis perpétuos do poema”.
“Que não se engane ninguém: / ser
um poeta é uma África.” (“O poeta marginal”). O que sugere ao leitor a
conclusão desse eu poético?
AC: Já que o Secchin citou o
Houaiss, vou citar o Aurélio, para o qual “áfrica” é “façanha, proeza,
feito”. Assim, ser um poeta é uma façanha, uma proeza, um feito. Usa-se com
minúscula, mas prefiro com maiúscula, quando a façanha fica ainda maior e mais
misteriosa, como o continente negro.
Tem nome ou referente a “Cidade”
que você constrói para Arthur Nestrovsky?
AC: Não. A cidade de A cidade e os
livros é o Rio de Janeiro, mas seus lugares “abriam-se em esquinas
infinitas / de ruas doravante prolongáveis / por todas as cidades que
existiam”. A cidade de Porventura é a que se compõe de todas as cidades
que existem. O poema é dedicado ao
Arthur Nestrovsky porque surgiu quando ele me encomendou um poema para
publicar, não me lembro mais em que periódico.
Um “entregador de
flores” rouba a cena no poema “As flores da cidade” (Porventura). Há garotos em
canções e poemas como “Onda” (Guardar) e “Vitrine” (A cidade e os livros).
Gostaria que comentasse a presença deles na sua poética, e de saber se existe sintonia entre
essas “musas” e o eu poético que se ouve no “Balanço”, suspeitando se será
“plenamente adulto”.
AC:
Do meu ponto de vista, não há grande sintonia entre eles. É que o
sujeito que jamais será plenamente adulto é o sujeito do poema, o poeta. De
fato, como poderia ser considerado adulto, sério e maduro alguém como eu, que
jamais seguiu carreira alguma, que não tem profissão, emprego ou aposentadoria,
alguém que, como diz Borges, “se aplicó a las simétricas porfias / del arte,
que entreteje naderías”? A entreter naderias, envelheço, mas jamais cheguei ou
chegarei a ser maduro ou adulto. É isso que, entre outras coisas, penso estar
dizendo ali.
Já o garoto de “Onda” se origina no Hino Homérico
a Hermes. Hermes é o mensageiro dos deuses, correspondente a Mercúrio ou Exu. O
autor do Hino fala dele como
[...]
um garoto versátil, manhoso,
ladrão, boiadeiro, pastor de sonhos,
olheiro
da noite, manjador de portões, que logo
mais
brilharia por seus feitos entre os
mortais.
[...]
Transplantando o cenário, da Arcádia para
o Arpoador, e modificando um tanto esse trecho do poema, escrevi:
[...]
Garoto versátil, gostoso,
Ladrão, desencaminhador
De sonhos, ninfas e rapsodos
[...]
“a flor/ da onda” vem de Alcman (fr.26).
“Vitrine”, por outro lado, é produto da
percepção do comportamento e da divagação sobre o narcisismo e sobre os sonhos
de consumo e de virtuosismo futebolístico de tantos rapazes brasileiros.
Quanto a “Flores da cidade”, trata-se de
um poema que foi feito a partir de minha experiência de caminhar pela cidade.
Adoro tais caminhadas, durante as quais observo muitas coisas, algumas
terríveis, outras belas, e às vezes troco olhares ambíguos, equívocos,
polissêmicos com os rapazes bonitos que atravessam o meu caminho.
Desde Guardar, você vem atualizando
a memória e o imaginário urbanos, através de um profícuo diálogo com a
mitologia e com alguns autores representativos da cultura clássica. Qual é a
importância desse diálogo para a poesia contemporânea?
AC: Posso falar somente da importância
desse diálogo para a minha poesia. O que ocorre é que penso em toda a
poesia canônica, principalmente na poesia do mundo clássico, que pertence tanto
ao Brasil quanto a qualquer outro país, como um thesaurus, um tesauro, um
reservatório de figuras. O poeta romântico inglês Keats dizia, com razão, que o
poeta não tem personalidade, pois é um camaleão. Pode-se dizer que, enquanto
poeta, ele não tem um ser particular. Homero era retratado – a partir, é claro,
do retrato que ele mesmo fez do poeta Demódoco, como cego. Interpreta-se isso
como a significar que o que ele canta não vem de sua própria experiência, mas
do sopro das Musas. Mas a cegueira quer dizer também que ele não se limita ao que
vê: não se limita ao presente. Assim é todo poeta enquanto poeta. Por isso,
digo em “O poeta cego”:
Eis o poeta cego.
Abandonou-o seu ego.
Abandonou-o seu ser.
Sem ser
nem ver ele verseja.
[...]
Porventura
Balanço
A infância não foi uma
manhã de sol:
demorou vários séculos; e
era pífia,
em geral, a companhia. Foi
melhor,
em parte, a adolescência,
pela delícia
do pressentimento da
felicidade
na malícia, na molícia, na
poesia,
no orgasmo; e pelos livros
e amizades.
Um dia, apaixonado,
encarei a minha
morte: e eis que ela não
sustentou o olhar
e se esvaiu. Desde então é
a morte alheia
que me abate. Tarde
aprendi a gozar
a juventude, e já me ronda
a suspeita
de que jamais serei
plenamente adulto:
antes de sê-lo, serei
velho. Que ao menos
os deuses façam felizes e
maduros
Marcelo e um ou dois dos
meus futuros versos.
O poeta marginal
Em meio às ondas da hora
e às tempestades urbanas
conectarei as palavras
que trovarão novas trovas.
Lerei poemas na esquina,
darei presentes de grego;
a cochilar com Homero,
farei negócios da China.
Exporei tudo na rede
sem ganhar nem um vintém:
a vaidade, a fome, a sede,
certo truque, rara mágica.
Que não se engane ninguém:
Ser um poeta é uma África.
Cidade
Para Arthur Nestrovsky
Lembro que o futuro era uma cidade
nebulosa da qual eu esperava
tudo e que, sendo uma cidade, nada
esperava de ninguém. Ah, cidade
sonhada de avenidas macadâmicas,
turbas febris e prédios de granito:
o que era que eu perdera e que, perdido
e em cacos, buscava nas tuas áridas
calçadas e esquinas? Hoje constato
que a névoa do futuro do passado
adensa-se dia a dia. De longe
teus contornos são mais arredondados.
Tu, cidade irreal, aos poucos somes:
já anseio te rever e já te escondes.
As flores da cidade
Há flores pelo caminho
através
da cidade à cidade:
naturais,
em canteiros e em árvores,
talvez,
mas quase todas
artificiais
nos cabelos dos bebês, em
cachorros
mimados, em vitrines e
revistas
femininas, em cartazes e
outdoors,
e – de novo naturais – em
floristas,
camelôs na calçada e,
sobretudo,
nas mãos do entregador de
flores, cujo
olhar esverdeado sobre as
rosas
é puro absinto e tudo nos
deslembra,
lançando-nos dúvidas
hiperbólicas
sobre o próprio destino a
uma hora dessas.
segunda-feira, 20 de agosto de 2012
concurso de poesia
No link a seguir estão os resultados finais do II Concurso de Poesia promovido por Autores SA, de cujo juri participo. As curtas observações que faço sobre os 12 poemas finalistas encontram-se bem no final do longo post que resume as etapas do concurso: http://autoressa.blogspot.com.br
terça-feira, 10 de julho de 2012
Ná no quintal
Curto a cantora Ná Ozzetti desde o início dos anos 80, quando adquiri em
Natal (RN) – ao acaso, sem referência – um vinil do Rumo. Este
grupo paulista entoa e traduz muito da subjetividade afetiva daquela década. Suas
sonoridades sutis marcaram minha audição mais ou menos como os timbres e tons de João
Gilberto, da poesia de Leminski e da música pop formataram o ouvido.
Com o belo show Meu quintal, Ná comemora 30 anos de uma carreira
bastante produtiva e sem concessões. Entremeado de clássicos como Capitu e
Atlântica, o show tem por base o CD homônimo de 2011, repleto de parcerias
com Luiz Tatit, Dante Ozzetti e Alice Ruiz, dentre outros.
Meu quintal ratifica a sofisticação estética de uma trajetória inventiva que não se repete, e cuja "língua falada" faz "tecer a melhor teia" (Luiz Tatit).
Meu quintal ratifica a sofisticação estética de uma trajetória inventiva que não se repete, e cuja "língua falada" faz "tecer a melhor teia" (Luiz Tatit).
Chovem acordes e palavras brotam no quintal de Ná. Ela dança lindamente ao colher os frutos do seu quintal cantado. Quintal urbano que também “é um sertão” onde vingam gestos. Seu repertório surpreende principalmente pelo teor de invenção e contemporaneidade.
A seguir, a palavra
da cantora cuja sutileza musical (a)fia.
NG: Ná, os seus discos e CDs
circulam principalmente nas grandes cidades. Muitos ouvintes não os
encontram, ou desconhecem a belíssima obra que você vem construindo ao longo
das três últimas décadas. Gostaria que apresentasse sua discografia, e as
formas de acesso e aquisição das obras.
NO: Nonato, com o grupo Rumo
gravei os seguintes discos:
Rumo e Rumo aos Antigos - lançados simultaneamente
em 1981
Diletantismo - 1983
Caprichoso - 1985
Quero Passear - 1988
Rumo ao Vivo - 1992
O Sumo do Rumo - Coletânea
Diletantismo - 1983
Caprichoso - 1985
Quero Passear - 1988
Rumo ao Vivo - 1992
O Sumo do Rumo - Coletânea
maiores informações no site www.gruporumo.com.br
em carreira solo:
Ná Ozzetti - 1988
Ná - 1994
Love Lee Rita - 1996
Estopim - 1998
Show - 2001
Piano e Voz - com André Mehmari - 2005
DVD Piano e Voz - idem - 2006
Balangandãs - 2009
Meu Quintal - 2011
a maior parte de minha discografia solo foi relançada pela gravadora MCD www.mcd.com.br . Além do site, normalmente são encontrados em livrarias como a Cultura, Saraiva, Fnac e Livraria da Vila.
o CD Meu Quintal foi lançado pela Borandá www.boranda.com.br
Ná - 1994
Love Lee Rita - 1996
Estopim - 1998
Show - 2001
Piano e Voz - com André Mehmari - 2005
DVD Piano e Voz - idem - 2006
Balangandãs - 2009
Meu Quintal - 2011
a maior parte de minha discografia solo foi relançada pela gravadora MCD www.mcd.com.br . Além do site, normalmente são encontrados em livrarias como a Cultura, Saraiva, Fnac e Livraria da Vila.
o CD Meu Quintal foi lançado pela Borandá www.boranda.com.br
NG: Dentre os trabalhos que conheço – Ná Ozzetti (1988), Love Rita Lee (1996), Piano e Voz (2005) e Meu Quintal (2011) –, percebo ser neste último que você se afirma como compositora. Das 12 faixas que compõem o cd, 11 são suas. O que motivou esta presença marcante da compositora?
NO: tenho composições também nos discos Ná (1994) e Estopim (1998).
comecei minha carreira como intérprete e a composição veio mais tarde.
gosto muito de poder alternar meus trabalhos, entre projetos autorais e os em que atuo como intérprete.
NG: O que se ouve e lê no seu quintal? Por causa da sua formação em Artes Plásticas e do diálogo que mantém com outras artes, gostaria de saber as influências estéticas.
NO: são muitas influências, em todas as formas de arte, como na dança Kazuo Ohno, Pina Bausch, no cinema Fellini, Chaplin, nas artes plásticas meus amigos Edith Derdyk, Laura Vinci, Gal Oppido, na literatura Guimarães Rosa, Mia Couto, os poetas Alice Ruiz, Paulo Leminski, Cecília Meirelles, e na música Tom Jobim, Beatles, só para citar alguns nomes, pois a lista é grande.
NG: Quais os projetos futuros?
NO: tenho idéias para um novo CD, com outras canções. Já já começo a
trabalhar nele.
sexta-feira, 6 de julho de 2012
Entrevista a Lohan Lage
Olá, caro Nonato. É com muita satisfação que o
recebemos, mais uma vez como jurado, no Concurso de Poesia Autores S/A. Nonato,
como você enxerga a literatura contemporânea brasileira, diante de tantas
mudanças nos hábitos da leitura e da escrita, bem como da edição dos livros e
da divulgação dos trabalhos pelas diversas mídias disponíveis? Qual é a cara do
novo poeta brasileiro? Ele preza pela técnica, ele remete ao clássico, ou ele
possui raízes firmes no movimento modernista da década de 20/30, quebrando
paradigmas a seu modo?
NG: Agradeço pelo convite, Lohan. Parabenizo pelo concurso cuja continuidade deve
ser celebrada, e pela sugestão da mitologia como um tema repleto de
possibilidades. Parabéns principalmente para os autores classificados. Creio
que a qualidade cresceu.
Vamos à pergunta que, na verdade, são três ou
quatro. Quando penso em literatura contemporânea, falo principalmente do que
foi produzido nas letras das últimas décadas do século XX e neste início de
milênio. Na minha visão de leitor, essa produção tem pouco a ver com o que
chamamos, por exemplo, de Literatura no século XIX – o mais literário de todos
os séculos. Naquele contexto, a Literatura era feita basicamente do diálogo com
a própria Literatura – uma arte calcada principalmente nas noções de gênero e
oralidade que sedimentam a cultura clássica. Depois das vanguardas do início do
século XX e de toda arte de ruptura produzida pelo Modernismo, ninguém acredita
mais nisso.
O cotidiano do século XX produziu uma
sensibilidade maquínica e virtual onde os conceitos de tempo, espaço e
identidade são relidos, alterando as concepções artísticas do
Classicismo e do Romantismo. A lição de Walter Benjamin
nos ensina que quando mudam os meios de percepção de uma comunidade,
transformam-se suas formas de fazer arte, de produzir cultura. Ou seja: não dá
para viver no século XXI cercado de mídias, telas, teclas, Iphones e escrever
como se estivesse num campo árcade tocando flauta, ouvindo vento, sem IPTU
para pagar. Por isso creio que a cara do poeta contemporâneo seja a do sujeito
que, dialogando criticamente com o arquivo de formas que a tradição nos legou, consegue
inscrever a sensibilidade do seu tempo.
2.Independente do
estilo dessa nova geração literária, quero saber, na sua concepção, o que um
poema tem que ter/ser para receber a sua nota 10? Que técnica é imprescindível,
a seu ver? A teoria deve sobrepujar a subjetividade na produção de um poema?
NG: Teoria é um instrumento contextual e
produtivo que serve principalmente para dar aula. A poeta contemporânea Ana
Cristina Cesar escreveu que foi salva pela técnica. Quando pensamos em arte,
não há salvação sem técnica. Seja na vida ou no texto, é preciso o exercício de
uma forma. Além da imagem, a forma remete a sons, noções de sintaxe e de
extensão. Os materiais acústicos da forma têm a ver com ritmos e timbres,
dentre outros, demarcando uma voz, um jeito de dizer. Por isso não curto poeta
que não lê ou aprimora esse jeito. Independente de geração, a nota máxima vai
geralmente para o autor que acentua a sua voz. E essa acentuação vocal requer, hoje,
um diálogo com diferentes linguagens – verbais e não-verbais – e um domínio da
forma que leva em conta, dentre outros, as noções de rapidez, visibilidade e fragmentação.
Esta entrevista completa e os meus comentários sobre os poemas do referido concurso foram publicados em http://autoressa.blogspot.com.br/
quinta-feira, 5 de julho de 2012
greve no "entre aspas"
Iniciada em 17 de maio de 2012, a greve nas universidades
federais brasileiras é o tema do programa ancorado por Monica Waldvogel. O debate dura em torno de 23 minutos. Começa
expondo um tema contemporâneo que é polêmico e pouco debatido: a mudança de paradigmas universitários na produção de conhecimento.
O programa trata do “caráter mercantil” e da
problemática da privatização no ensino superior, da desestruturação do plano de
trabalho e das condições materiais das instituições. Ressalta questões como Reuni,
aposentadoria e, dentre outros, as relações entre alunos e professores. Veja no link:
sábado, 16 de junho de 2012
Ulisses deslocados
cada viagem, pequena ou grande, sempre é Odisséia
Italo Calvino, Por que ler os clássicos
“Os
lugares a gente carrega, os lugares estão em nós”.
“Sou um
homem do século XIX extraviado neste século”.
@
“O
argentino tem a mania do exílio”
Cesar
Aira in Diálogos Oblíquos, Bella
Josef
@
“...tinha
a alma cheia de barcos”
Graciliano
Ramos, Angústia
@
“Eu me
considero um grego transviado nas ruas de Bizâncio”.
Euclides
da Cunha in Revista de História, Alberto Venâncio Filho
@
“Sou uma
mulher do século XIX/ disfarçada em século XX”
"As viagens em que acabamos chegando por partes: primeiro o corpo, depois a sombra."
Adolfo Montejo Navas, Pedras Pensadas
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