o mundo muda de ritmo, acelera
Stefan Zweig nasceu num mundo cujo ritmo era lento. Um mundo
onde, segundo ele, o amor e a arte eram considerados “dever comum”. Neste mundo, o autor aprendeu, desde cedo, a
“amar de todo coração a idéia da comunidade como sendo a mais elevada”.
Adentrado o século XX, o escritor austríaco viu o ritmo
daquele mundo lento – atento às batidas do “coração” e aos passos da
“comunidade” –, ser substituído pela rapidez do mundo moderno e do seu
cotidiano maquínico. Nas primeiras décadas do século XX, o ritmo comum cedia
espaço para os ritmos livres da massa.
Estas mudanças de ritmos e de percepções mexeram com a vida e
com a escrita de Stefan. Ele ouviu o mundo moderno e a sua multiplicidade de formas
e ritmos culturais acelerando o corpo humano, expandindo sua mente, criando novas técnicas.
Stefan viu o cinema e a música fabricarem astros. Atento às conexões entre mídia, tecnologia e guerra, ele viu também a fabricação de atletas
e de novas linguagens para uso das grandes massas. Leu, sem nenhum nacionalismo ufanista, os cenários em ruínas do
pós-guerra na Áustria, registrando a censura de Hitler aos seus livros, e os
preconceitos sofridos por causa da descendência judia e do exílio (na Inglaterra e no Brasil).
O autor de O mundo
insone viu a pressa, antes considerada “deselegante”, ser substituída por
hábitos cotidianos mais rápidos. Hábitos repetitivos, e gestos automatizados de uma
cultura na qual a noção de profundidade perde o tom, e o ideal de verdade, contido
na página impressa, começa a ser questionado. Ele diz que a palavra do poeta perde força e o seu poder visionário, após a primeira guerra mundial.
Ao registrar esses fatos e essas perdas, nos camarins e nos
cenários bélicos da Europa moderna, "O mundo de ontem" “narra” os crimes capitais do
século XX. Crimes de um tempo no qual a violência, patrocinada pelas duas grandes guerras, vence o direito e as
leis.
2 comentários:
"O mundo de ontem" “narra” os crimes capitais do século XX. Crimes de um tempo no qual a violência, patrocinada pelas duas grandes guerras, vence o direito e as leis"
Tempos de utopia e idealismo.
Abraço
Rui Guedes
Isso mesmo, Rui, vc está certo: nenhuma utopia para um tempo que se diz realista.
Abraço
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