e todo caminho deu no mar

e todo caminho deu no mar
"lâmpada para os meus pés é a tua palavra"

domingo, 8 de dezembro de 2013

"O mundo de ontem"


o mundo muda de ritmo, acelera 
 
Stefan Zweig nasceu num mundo cujo ritmo era lento. Um mundo onde, segundo ele, o amor e a arte eram considerados “dever comum”.  Neste mundo, o autor aprendeu, desde cedo, a “amar de todo coração a idéia da comunidade como sendo a mais elevada”.

 
Adentrado o século XX, o escritor austríaco viu o ritmo daquele mundo lento – atento às batidas do “coração” e aos passos da “comunidade” –, ser substituído pela rapidez do mundo moderno e do seu cotidiano maquínico. Nas primeiras décadas do século XX, o ritmo comum cedia espaço para os ritmos livres da massa.

 
Estas mudanças de ritmos e de percepções mexeram com a vida e com a escrita de Stefan. Ele ouviu o mundo moderno e a sua multiplicidade de formas e ritmos culturais acelerando o corpo humano, expandindo sua mente, criando novas técnicas.
 
crimes do mundo acelerado

 
Stefan viu o cinema e a música fabricarem astros. Atento às conexões entre mídia, tecnologia e guerra, ele viu também a fabricação de atletas e de novas linguagens para uso das grandes massas. Leu, sem nenhum nacionalismo ufanista, os cenários em ruínas do pós-guerra na Áustria, registrando a censura de Hitler aos seus livros, e os preconceitos sofridos por causa da descendência judia e do exílio (na Inglaterra e no Brasil).

 
O autor de O mundo insone viu a pressa, antes considerada “deselegante”, ser substituída por hábitos cotidianos mais rápidos. Hábitos repetitivos, e gestos automatizados de uma cultura na qual a noção de profundidade perde o tom, e o ideal de verdade, contido na página impressa, começa a ser questionado. Ele diz que a palavra do poeta perde força e o seu poder visionário, após a primeira guerra mundial.
 

Ao registrar esses fatos e essas perdas, nos camarins e nos cenários bélicos da Europa moderna, "O mundo de ontem" “narra” os crimes capitais do século XX. Crimes de um tempo no qual a violência, patrocinada pelas duas grandes guerras, vence o direito e as leis.


 

2 comentários:

Anônimo disse...

"O mundo de ontem" “narra” os crimes capitais do século XX. Crimes de um tempo no qual a violência, patrocinada pelas duas grandes guerras, vence o direito e as leis"

Tempos de utopia e idealismo.

Abraço

Rui Guedes

Nonato Gurgel disse...

Isso mesmo, Rui, vc está certo: nenhuma utopia para um tempo que se diz realista.

Abraço