“Pontuada por imagens triviais, a memória, entre rajadas de
coloquialismos, rege a linhagem das confidências.” Com estas palavras, o
crítico literário R. Leontino Filho se refere ao livro Dos amores que beiram o meu caminho (2013), de Aluísio Barros de
Oliveira, autor potiguar que fala sobre a sua produção literária na entrevista
a seguir.
Em seu belo prefácio, o também poeta e professor R. Leontino
sugere como o outro – e o “logos amoroso em seus meandros” – ajuda a formatar
esta poética repleta de formas e eus fragmentados. No diálogo que aciona com a
modernidade, Aluísio estetiza multifacetados eus poéticos que rememoram e gostam
de confessar. Essa confissão alcança, às vezes, a sua melhor forma quando o sentimento
afetivo se dá em sintonia com a mãe natureza, revelando as contradições que movem
e afetam os seres amorosos de todas as épocas, assim: “Chuva de sol perigo no
ar.” Ou assim: “uma linha separa o mar
do sertão”.
Uma das melhores sequências do livro chama-se “Nós temos um
passado, meu amor” (leia dois poemas após a entrevista). Nela reconheço a voz do
jovem poeta que esboçava, no internato dos anos 70, os versos que comporiam o
seu primeiro Pássaro Oculto (1982). Tomara que Aluísio continue colhendo os
seus “pássaros”, repassando-os ao leitor. Pássaros-poemas cujo cantar “eletrifica”
os caminhos de quem ama e lê.
“Sim, nós já fizemos isso antes”
NG: Aluísio, quais são os principais títulos da sua
produção bibliográfica?
AB: O
jornal do colégio não conta, pois os poemas perderam-se no mural. Contam os
sentimentos que se instalaram dentro do poeta, desde então. Pássaro Oculto (1981), Canção fora de tom e moda & outros
poemas (1986), Anjo Torto (1993) e Não toque, Alice (2001). E aqui e ali,
participações em obras coletivas: Folhas
avulsas (EDUC, 1992) e a Antologia
nacional de poesia, 1998, da Universidade Santa Úrsula, RJ.
NG: O que diferencia Dos amores que
beiram... (2013) ou o aproxima dos outros livros de poemas?
AB: Creio que Dos
amores que beiram... assinala a insistência pela existência do coro de
anjos que desafinam o coro dos contentes.
NG: Qual é o seu "cânone" literário
particular?
AB: Os
poetas que me inquietam o ser: do mundo, Baudelaire; do Brasil: Mário,
Bandeira, Cecilia, Drummond, Vinicius, João Cabral... e Torquato, Leminski,
Hilst, Ana, Alice... e Caio F. e Clarice nas suas tantas linhas todas poéticas.
Um poeta para cada hora, um verso para cada vela que acendo.
NG: Dos amores que beiram... afirma o
amor desde o título. Termina com uma risada de rio e uma explosão do corpo
escrevente que parecem ratificar a afirmação do título. Pode-se dizer que o
sentimento amoroso (ou a sua falta) e a sintaxe dos afetos cotidianos são
o combustível da sua escrita?
AB: Sim.
Desejei as outras vozes... e elas vieram: uma por uma e recitaram-me os seus
versos. Menino, menina, gente grande, gente de muito tempo vivido. E eu vinha
junto com todos eles, pois percebia que todos moravam dentro de mim. Um poeta
pensa assim. Vive assim: inquieto e tomado pelos seres que saem dos livros
lidos, das histórias que escuta e dos muitos beijos que apanha... ou deseja...
Creio que é daí que virá o alimento para se escrever poemas. A poesia, essa,
sim, vai sempre depender do outro.
NG: Para que serve um livro de poemas no século
XXI?
AB: Um livro de poemas é o antídoto que nos livrará
dessa maresia corrosiva que o tempo inteiro tenta aniquilar os seres, reificando-os.
De pés alados, piso mais leve. E se escuto o
outro, Nonato, talvez, pela outridade,
possa voar, deixando de ser poeira de chão.
Nós temos um
passado, meu amor
Cabelos ao vento,
esse rapaz está querendo
um passado rock'n roll.
(Poentes,
estrelas cadentes,
noites ao relento,
peito aberto,
ninho incerto,
estradas,
escadas sem fim,
pontes sem navios,
meio fio de nada,
meia lua estrelada,
um amante em cada pasto...
um passado rock'n roll).
E eu aqui,
parado no blues, no jazzou em noites regadas a pop rock
canções largadas pela metade
que me desanimam o corpo
e não me remetem além do nada que aqui se expõe.
(Poente,
um coração tão escondidinho
e guardado por anjinhos tremeluzentes, neonizados,
além de uma confiança soberba num passado já rotulado
e em estantes sepultado,
são minhas defesas contra qualquer investida em busca
do meu passado rock’n roll).
- Olha pro Céu, meu
Amor, veja como ele está rindo!
avisa o Anjo que
passa por mim, resenhando sinais.
- Será?
Nós temos um
passado, meu amor II
Conhecer?
Mire,
Veja.
Aloje-se dentro do que lhe é ofertado e não jogue fora o caroço
sem que todo o bago, aço, asco,
tenha sido retirado:
não há tempo para arrependimentos:
diluído,
é pelo ralo, em noites insones, que o tempo desalmado
escorrega.
2 comentários:
Você nos últimos tempos tem me feito sorrir. Me fez feliz o teu post.
Anônimo feliz, eu tb fico assim com este comentário.
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