Cinema Tecnologia Percepção - Novos diálogos é o título do colóquio internacional que iniciou ontem, dia 30, e vai até amanhã, no Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro. O encontro reune pesquisadores brasileiros, franceses e argentinos para discutir "o estatuto do cinema e da imagem" mediante o impacto das novas teconologias. "O que figura o figurante: o casting daquele ou daqueles que representam o povo", de Marie-Jose Mondzain (École des Hautes Études en Sciences Sociales) é o título da execelente conferência que abriu o evento.
Em sua fala, a autora chamou atenção para os que aparecem na tela, mas não possuem uma identidade própria. Apesar disso, esse seres são tocados pelo "brilho erotizado" da câmara. Corpos transformados em significantes do desejo. Sua fala atenta para o significado político desses figurantes no cinema. Para ela, é importante encarar como uma "energia política" a figura do figurante; o homem da multidão, o homem do povo, o homem da rua - aquele para quem Baudelaire, Põe e Benjamin direcionam o olhar moderno.
Segundo Marie, foi a primeira guerra quem criou os corpos sem nomes, as sombras, os soldados que seriam despois transformados em Monumentos aos Soldados Desconhecidos. Lembrei de Benjamin novamente, para quem o homem retorna da guerra sem querer narrar o horror que viu. Segundo ele, isso também contribui para a morte da narrativa.
Adorável vagabundo - filme dirigido por Frank Capra (A Felicidade Não Se Compra), com Gary Cooper e Barbara Stanwyck no elenco - serve de exemplo para a aprição deste fulano de tal, deste João Ninguém que aparece na tela. Com imagens intercaladas na tela durante a conferência, o filme narra a história de uma jornalista. Após ser demitida, ela publica como seu último artigo uma carta com o nome fictício de John Doe. O texto gera tamanha repercussão que um homem simplório acaba sendo tomado como o autor dela, e fazendo com que os fatos saiam do controle dos poderosos. A partir desta obra, são elaboradas múltiplas relações políticas, estéticas e sociais com o herói sem nome; com este que não é herdeiro de porra nenhuma e que representa uma multidão de trabalhadores, de soldados, de rostos sem assinaturas.
Essa problemática está relacionada com a Era Industrial. Com o modelo do homem médio americano. Põe em cena os paradoxos da democracia social e a questão da visiblidade e da representação popular. Nsta altura, a pesquisadora atenta para o populismo como regime que explora o horói sem nome, e questiona a crença na verdade política. No final de sua fala, a autora atenta para este figurante como o corpo estranho de toda grande narrativa. Um corpo que nos lembra muito bem a nossa própria solidão de cidadãos em busca de uma identidade social. Noite marcante: além da bela conferência, o visual noturno do Rio visto do MAM, da baía. A cidade lida por outro ângulo, como sugere Clavino em As Cidades Invisíveis. Mas essa já é outra história. Amanhã eu narro mais sobre o colóquio.
2 comentários:
Oi Nonato, eis o link para aquele conto do Octavio Paz que eu contei meio por cima durante o seminario na Uerj:
http://www.releituras.com/opaz_vida.asp
Luciana
Olá Luciana!
Obrigado pelo link e pela idéia de
contar o conto. Bom sacar que o PR virou a terra dos contos e mitos. O que seriam dos nossos seminários sem as narrativas de lá?...rsrs
bj
N Gurgel
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