e todo caminho deu no mar

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"lâmpada para os meus pés é a tua palavra"

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Largo II


Para Numa Ciro e Leonardo Gandolfi

I


Continuo lendo a geografia afetiva do Largo. O Largo do Machado e seu entorno. Ratifica o trânsito e a predileção dos nordestinos pelo Largo e suas adjacências, a presença de vários artistas, escritores, professores, pesquisadores e produtores culturais que residem nesta região. Tem sido assim desde os tempos do Império até hoje, não é Jussara Santos?

Decepcionado com a tristeza da Europa, o escritor e deputado José de Alencar – conhecido como o patriarca do romance nacional – morou na rua Pinheiro Machado, nas Laranjeiras; hoje, o autor cearense senta petrificado num belo cruzamento do Flamengo, bairro onde viveu o poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto.


Quem também transitou pelo Largo e suas adjacências foi Graciliano Ramos. Ao sair da prisão da Ilha Grande, em 1937, o escritor e ex-prefeito alagoano encarou uma pensão no Catete. Ficava na rua Correa Dutra. Hoje essa rua vive repleta de motoboys nascidos na Tavares Bastos e em Campina Grande na Paraíba. Uma rua tipicamente carioca com alta taxa da oralidade nordestina.
  
II


Nascidos no Nordeste, alguns escritores contemporâneos continuam transitando no Largo e seu entorno. Ao lado do Largo, o ensaísta e professor Eduardo Portella continua ministrando o seu curso de pós-graduação no Colégio Brasil. O poeta e professor paraibano Aderaldo Luciano aparece nas aulas do mestre baiano, de quando em vez. Conterrâneos, os poetas Eli Celso da Silveira (Rua do Coração Perdido) e Nei Leandro (Dunas Vermelhas), conhecem muito bem o pedaço. A professora e poeta baiana Helena Parente Cunha, também. O cantor e compositor Jackson do Pandeiro conheceu muito bem a Glória.

Próximo ao Largo, brota a prosa marítima e sertaneja do escritor cearense Moacir C. Lopes. Autor de mais de 20 romances, entre eles “A Ostra e O Vento”, o ex-marinheiro viveu durante décadas na rua das Laranjeiras, onde autografou para mim, em 2007, “A ressurreição de Antonio Conselheiro e a de seus 12 apóstolos”. Como o título anuncia, neste seu ultimo romance Moacir relê Euclides da Cunha e os seus mitos mais produtivos: os sertões, Canudos e o Conselheiro.


O beato Antonio Conselheiro nasceu em Quixeramobim, no Ceará, onde nasceu também o professor Ary Pimentel. Pesquisador da UFRJ, ele transita pelo Largo, e estuda a literatura dos excluídos e da margem, num diálogo profícuo com as narrativas contemporâneas produzidas na América Latina.

2 comentários:

Anônimo disse...

muito bom: o largo termina na America Latina...

bj
LL

Nonato Gurgel disse...

Valeu !!