e todo caminho deu no mar

e todo caminho deu no mar
"lâmpada para os meus pés é a tua palavra"

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Escrito com os dedos


Para Telma

Lembro da página em branco. Circulo vermelho, letreiros azuis. Como um poema concreto. Quando eu crescer, dizia para minha mãe, quero ser que nem tio Bento. Até namorei no riacho uma menina linda, Benta. Mas nunca nas festas em família consegui atuar e dançar como o tio.

O que eu não sabia naquele tempo é que tio Bento beijava bem. Deixava a mulherada boba querendo mais e mais e mais. Cursando as melhores universidades européias, o tio aliava informação com afeto. Bento lia. Bento ria. O mundo girava no ritmo de tio Bento. Seu riso traduz até hoje a viabilidade técnica de quem vence campeonato de xadrez, natação ou punheta.

Tio Bento só tinha um porém: ficava às vezes meio over e destilava todo suor. Sem combustível, rompia consigo, era ninguém. Não o ninguém que salva Ulisses, mas o nada. As histórias do Catete e da Paraíba nos ensinam que, seja Getúlio Vargas ou João Pessoa, os extremos matam qualquer parada.

2 comentários:

Era uma vez disse...

Meu bruxinho, parece me ver mais que eu mesma. Te amo muito.
Telma

Anônimo disse...

é por isso que os chineses ensinam que tem que ter o equilíbrio entre os extremos. achei o texto lindo. bravo!

e o negócio da luz, sim, o a luminosidade dos lugares dão o tom certo ao mistério das coisas (e das pessoas).
=)