e todo caminho deu no mar

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"lâmpada para os meus pés é a tua palavra"

sábado, 11 de junho de 2011

Largo I


Dizendo de nordestinos e demais brasileiros como transeuntes que gostam de andar pelo Largo do Machado, no Rio, comecei esta viagem no domingo. Para atestar a geografia afetiva e cultural do Largo e seu entorno, citei alguns dos seus moradores mais ilustres desde os tempos do Império: José de Alencar, Machado de Assis, Graciliano Ramos, João Cabral, Moacir C. Lopes... Largo de Letras.


No Largo fica a Escola Estadual Amaro Cavalcante, senador potiguar que nasceu em Jardim do Piranhas – RN, onde morei durante anos. Nesta escola, a poeta Ana Cristina Cesar (objeto de minha dissertação de mestrado) estagiou como professora. Essa sintonia espacial se repete, a cada pleito, quando trabalho nesta escola como presidente de uma seção eleitoral. Com ou sem roteiro, ando a esmo pelo Largo que é uma beleza. Músculos e retinas estocados, gosto de mexer, sem prazos, nos tomos dos sebos e das estantes da livraria Empório das Letras. Lá, Denise e Sonia narram as melhores histórias, dão dicas e risadas. Largo ri.


Há no Largo bens gastronômicos aos quais recorremos como viciados.  A esfihra do Árabe com café quente, no balcão ou nas mesinhas, é pedida minha e de uma exímia leitora do sertão: Alexandra Moraes. Carioca florescida sertaneja na Casa da Leitura, nas Laranjeiras, ela sabe que o Largo – parodiando o sertão de Rosa e os habitantes da Barra –, é lugar onde os cercos não carecem de fechos. Largo não pede muro.


Redes e mantas coloridas da Paraíba, tapiocas de goma do Ceará, açaí e castanhas do Pará... O Largo dá saudades do Brasil. Mas quem tem saudades do Brasil na Barra? “A Barra é como se a gente estivesse num lugar que não é o Brasil” – diz orgulhosa, na tv, uma moça na Avenida das Américas. No Largo do Machado é diferente. Lá, com todos os timbres cariocas e sotaques estrangeiros, é como se a gente estivesse no Brasil. Largo é o Brasil.

9 comentários:

Anônimo disse...

Lindo, lindo Nonanto.
Abçs.
Valéria Lourenço.

Nonato Gurgel disse...

valeu, Valéria, leitora das cidades

Alexandra Moraes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Alexandra Moraes disse...

"Largo não pede muros."
Poeta, ah poeta!
É com alma cheia de barcos e desconhecedora de fechos, que lhe abraço fortemente e aguardo, ansiosa, nossa próxima esfiha!
Dessa carioca sertaneja!

Nonato Gurgel disse...

Amei a alma cheia de barcos, querida. bjs

Raissa disse...

O Largo ri mesmo, Nonato. Também sou fã da Livraria Empório da Letras, é muito aconchegante.
Raissa.

Roberto Bozzetti disse...

Nonato,
uma maravilha esses textos sobre o Largo, deu vontade de re-cariocar, esse lado do Rio que convida vocacionalmente à flânerie é cada vez mais raro, estrito mas existe.
O tempo que morei aí - metade da minha vida, mais um pouco - pouco fiz do Largo fonte desse tipo de prazer, não estava nos meus caminhos habituais, só de vez em quando. Me ocorreu ainda, lendo você, que Paulinho da Viola também estudou na Amaro Cavalcanti. Ele me disse uma vez que se lembra perfeitamente de sair da escola, de uniforme, e escutar maravilhado o "Qui nem jiló", do Gonzagão, por feliz coincidência a minha canção predileta do Lua.
Por fim, caro Nonato, uma beleza esse teu blog, descobri meio que por acaso (como é que vc não avisa?...), só conhecia o Arquivo de Formas.
Parabéns e o fraterno abraço do
Roberto Bozzetti

Nonato Gurgel disse...

Olá Raíssa, é muito bom ter vc por aqui, no Largo e na Empório das Letras. Volte sempre. bj

Nonato Gurgel disse...

Caro Roberto, obrigado pela leitura do Largo e pelas informações sobre o Paulinho da Viola no Amaro.

Abraço
Nonato